Como bem define Yuval Noah Harari, na sua obra “Sapiens: uma breve história da humanidade”, o crédito é um tributo às capacidades incríveis da imaginação humana, que se baseia na confiança das pessoas em um futuro melhor do que a situação atual.
Imaginemos, reprisando o exemplo utilizado pelo autor israelense, que alguém decide abrir um banco e recebe o depósito de um empreiteiro, no valor de R$ 1 milhão. Pois bem, na sequencia o banqueiro recebe a visita de uma chef que deseja abrir uma padaria, mas não possui dinheiro suficiente. Ela pede ao banco um empréstimo de R$ 1 milhão para construir sua padaria. E contrata o mesmo empreiteiro antes citado para fazê-lo. Este empreiteiro constrói a padaria da chef e recebe como pagamento um cheque de R$ 1 milhão, que deposita no banco. Agora o empreiteiro tem R$ 2 milhões depositados no banco, mas na verdade só há R$ 1 milhão realmente na instituição financeira.
Este é o crédito, que somente pode existir com base na mútua confiança entre os envolvidos: o banqueiro, o empreiteiro e a chef. E porque todos eles esperam que o futuro seja melhor: a chef confiando que vai vender pães suficientes para ter dinheiro, o banqueiro confiando que a chef lhe pague o empréstimo e o empreiteiro confiando na solvência do banqueiro.
Esta confiança no futuro que possibilitou, segundo o citado autor, o “crescimento do bolo”, ou seja, um aumento da riqueza mundial. Antes do surgimento da economia moderna, se pensava que a riqueza global era limitada e se alguém enriquecia, era porque outra pessoa estava empobrecendo. Ou seja, o “bolo” era o mesmo e buscar um pedaço maior significaria tirar parte da fatia de alguém. Daí a noção de que enriquecer era pecaminoso, já que estaria empobrecendo outra pessoa.
O sistema de crédito provou ao contrário: quando se gera riqueza, mais se aumenta o bolo e todos podem aumentar sua fatia. E quanto mais desenvolvimento e crescimento econômico há, mais a confiança no futuro aumenta. E quanto mais confiança, mais crédito é disponibilizado no mundo.
O crédito, portanto, tem grande relevância no desenvolvimento da humanidade, já que possibilita o crescimento econômico coletivo. Os grandes benefícios tecnológicos que hoje experimentamos devem-se em grande parte à sua existência, que possibilitou a aplicação de recursos financeiros às ideias geniais que, pouco a pouco, revolucionaram o mundo.
Da mesma forma, as atividades agrárias também foram favorecidas com o sistema de crédito. Vários países instituíram políticas de incentivo ao crédito rural, como o Farm Credit Sistem norte-americano e a Política Agrícola Comum da União Europeia.
No Brasil, o crédito rural tem grande relevância desde que surgiu, nos anos sessenta.
No próximo texto vou explicar como surgiu o crédito rural no Brasil e como ele funciona.
FRANCISCO TORMA, advogado agrarista.